Uma Viagem ao Interior da Amazônia: do Cacau Selvagem a uma Comunidade Indígena Isolada

Deixando a comunidade de Joel, embarcamos em uma nova aventura pelo Rio Madeira: três dias navegando tranquilamente em um barco, embalados pelo som do vento e o balanço das águas. Três dias sem sair do barco podem parecer longos, mas, ali, o tempo simplesmente para. Poderia ter ficado uma semana sem hesitar!

A vida a bordo se organiza de forma simples: almoços e jantares comunitários, cochilos à tarde, banhos refrescantes com a água barrenta do rio, e muito tempo para pensar, meditar, ler, ouvir música, observar as margens que deslizam lentamente, e admirar os botos e os pores do sol mágicos no convés. As noites? Embaladas pelo som constante do motor do barco.

Após uma troca de embarcação em Manicoré, chegamos à entrada da comunidade indígena Jauari, lar do povo Mura. Seu Roque, que já estava conosco desde Joel, nos guia. O desembarque foi uma aventura por si só: com o barco em movimento, jogamos as mochilas em uma pequena canoa amarrada ao lado, pulamos dentro dela e seguimos em direção à margem. A chegada? Um desembarque na lama!

Encontro com o Povo Mura

A comunidade Jauari é uma reserva registrada pela FUNAI, e só foi possível visitar graças ao convite de seu Roque, que nos recebeu em sua casa. Sem isso, a entrada seria impossível. Foi minha primeira visita a uma comunidade indígena isolada, e fiquei maravilhado.

Após descarregar os suprimentos e mochilas, seguimos por uma trilha na floresta por 30 minutos. O calor úmido e os sons vibrantes da selva nos envolveram completamente: cada passo era acompanhado por um concerto de grilos, pássaros e outros animais. Passamos por um pequeno riacho repleto de jacarés, enquanto ouvíamos histórias de anacondas e onças que habitam a região.

Chegamos à casa de seu Roque: uma cabana encantadora, construída em madeira com telhado de folhas de palmeira.

Não há água encanada, nem eletricidade. À noite, as tarântulas e os mosquitos nos fazem companhia. É simples, mas mágico.

Vivendo no ritmo da comunidade

Passamos uma semana vivendo ao ritmo do sol e da floresta, acompanhados por Jonatas, da equipe técnica da Nakau. A colheita de cacau já havia terminado, mas exploramos a floresta para visitar as áreas onde o cacau selvagem cresce.

Os cacaueiros aqui são impressionantes, alguns com raízes que se torcem e se espalham por até 50 metros, criando uma paisagem que lembra manguezais. É fascinante ver como a natureza se adapta às cheias do rio, ano após ano.

No fim de semana, nos aventuramos ainda mais fundo na floresta para visitar o vilarejo principal, onde vive o cacique.

A viagem de duas horas de canoa foi inesquecível: o rio seco em alguns trechos era tão raso que mal passava do fundo da embarcação. Batemos em galhos, troncos e até quebramos a hélice!

Apesar do contratempo, não tivemos medo. Mas, no meio da selva amazônica, cercados por jacarés, a situação poderia ter sido mais tensa. Felizmente, como só o Brasil sabe fazer, minutos depois, outra canoa surgiu pelo rio e, milagrosamente, tinha uma hélice extra para nos emprestar. Que sorte!

No vilarejo, passamos dois dias incríveis. Fomos recebidos como parte da família. Conhecemos o cacique, sua esposa e crianças cheias de energia. Passamos as tardes brincando no rio, desenhando e comendo peixe fresco. Conversamos longamente sobre seus desafios e a importância do cacau para a comunidade.

Cacau Selvagem: Uma Solução Sustentável

O cacique nos explicou que o cacau é a solução perfeita para eles. Ele pode ser replantado, colhido e vendido sem interferir na floresta nem no modo de vida tradicional. Pelo contrário, o cacau selvagem ajuda a preservar os ecossistemas, fornecendo renda sustentável e fortalecendo a comunidade. Para eles, é a melhor forma de garantir o futuro, mantendo suas raízes e respeitando a floresta.

Uma Experiência Transformadora

Como experiência humana, essa vivência foi única. Fomos acolhidos de forma tão calorosa, compartilhando o cotidiano de uma comunidade que vive em profunda harmonia com a natureza. Apesar de sermos de mundos tão diferentes, percebi o quanto somos parecidos em essência.

Foi incrível entender a relação deles com a floresta, sua visão de mundo e os desafios que enfrentam, como secas, desmatamento e a migração dos jovens para as cidades. Viver na selva, em cabanas simples, reconecta você com suas raízes e faz perceber o contraste gritante com o conforto excessivo das cidades.

Sou profundamente grato a seu Roque, sua família e à equipe Nakau por nos proporcionarem esse privilégio. Essa experiência mudou minha forma de ver o mundo e reforçou o quanto podemos aprender com quem vive tão perto da essência da natureza.

Nossa barra de chocolate exclusiva, feita com o cacau do Seu Roque:

Intenso Selvagem 80%

 

Créditos :

reportagem fotográfica: Amanda Lavorato

organização da viagem e suporte técnico : Na'kau

apoio técnico e salva vida : Jônatas